sábado, 10 de agosto de 2013

O ser complexo


Na caminhada cotidiana os homens buscam referenciais a fim de moldar a personalidade e nortear a jornada. Neste contexto, incorporamos aquilo que percebemos nas outras pessoas. Nos apropriamos de linguagens, gestos, ideias e vocabulários. Incorporando parte das características que compõem a identidade daqueles que admiramos. 

Quando incorporamos parte daquilo que percebemos no outro, ou pensamos a seu respeito, inserimos este 'eu' imaginário na coletividade de nosso ser. A partir deste momento, cada 'eu' incorporado começa a fazer parte e participar do diálogo interno de cada indivíduo.

Esta comunhão e intercâmbio ocorre quando oferecemos ao mundo parte daquilo que desenvolvemos em nós mesmos, e colhemos pra nós aquilo que percebemos no mundo. Tudo ocorre a partir da legitimação de características individuais passíveis de incorporação coletiva. Da mesma forma, colhemos do ambiente múltiplas individualidades conforme percebemos o 'eu' de cada um.

De algum modo, o ser complexo é composto de uma infinidade de 'eus'. Cada um destes ‘eus’ participa de forma ativa no diálogo interno à consciência. Disciplinando a razão e influenciando as escolhas de cada indivíduo.

Todo este processo ocorre, ora de forma intencional e matemática, ora de forma involuntária. O certo é que sentimos em nós mesmos aquilo que percebemos nos outros. E temos a tendência de nos apropriar das características as quais admiramos quando estas são passíveis de ser incorporadas pelo ser complexo.

Podemos dizer que este processo é uma forma de comunhão construída. Sabemos que algumas características são únicas e próprias de cada ser, a medida em que são definidas pelas experiências e vivências que o indivíduo têm no caminho. Outras características são genéricas, coletivas e universais, sendo assim passíveis de incorporação.

Toda vez que compartilhamos pensamentos e sentimentos com outras pessoas, participamos ativamente do intercâmbio subjetivo. Este intercâmbio transcende a interação interpessoal, podendo também ser expandido à interação dos homens com a natureza e o universo como um todo.

Muitas vezes o imaginário possibilita uma confusão entre os elementos. Durante muitos séculos, os homens costumavam confundir as paixões e visualizações mentalizadas com elementos da natureza tais como a luz da lua, as estrelas e outros astros. O fato é que as imagens confundem os sentidos. 

Neste contexto, é necessário que saibamos distinguir aquilo que visualizamos, sentimos e imaginamos, daquilo que realmente é.  Boa parte das percepções é mero ilusionismo e confusão perceptiva. O certo é que o ser complexo não pode ser definido por um único 'eu' uma vez em que se legitima como um conjunto de 'eus'. Cada 'eu' é dotado características particulares, compondo assim uma complexidade singular e plural ao mesmo tempo. 

Apesar de todos os possíveis erros interpretativos entre a realidade e a imaginação, a apropriação e intercâmbio de características subjetivas ocorre a todo momento quando há sintonia, afinidade e vivência comum. Da mesma forma, procede naturalmente sempre que a percepção define alguém como igual, diferente ou semelhante. 

J.P.D.

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